Num certo sentido, homens e mulheres deste nosso mundo estão cercados por todos os lados pelo silêncio de Deus, abandonados totalmente à própria sorte de seres contingentes e finitos.
Este silêncio enigmático e sufocante desconcerta a muitos cristãos desejosos de qualquer manifestação sensacional de Deus. Uma espécie de teofania do Antigo Testamento, com raios e trovões, que arrancasse homens e mulheres de sua letargia, purificando para sempre o mundo e reconduzisse novamente à fé a humanidade inteira.
A tentação exercida entre nosso povo pelas diversas formas do exoterismo e de seus sucedâneos é uma prova dessa fome doentia de apalpar, de apreender, de agarrar essa presença ou ausência misteriosa que governa e mantém o mundo.
Entretanto, para nós, crentes, este silêncio de Deus é aparente, porque Deus nos fala sem cessar. Sua Palavra está aí perto de nossas mãos, nas Sagradas Escrituras. Nos templos e igrejas o culto e a liturgia nos vem continuamente lembrar esta realidade empolgante: Deus está no mundo. Deus desceu à Terra e se fez como um de nós.
Não é apenas uma presença figurada, como na Arca da Aliança. É uma presença que se tornou concreta e palpável na Encarnação. Deus se fez carne, levantou Sua tenda entre os filhos. Deus se encarnou e entrou na história humana para dela não mais sair.
O Senhor é bom e misericordioso. Não quis ofuscar homens e mulheres com Sua glória, por isso penetrou sorrateiramente entre eles, fez-se um entre muitos, e é preciso descobrir Sua presença escondida, encarnada sob as vestes do cotidiano.
Ele está aí e nos chama; nós, porém, não ouvimos Sua voz, não queremos abrir nosso coração à Sua Palavra, ao seu Verbo, que se fez pessoa como nós.
É este o silêncio de Deus, um silêncio causado por nós próprios, que sufocamos os apelos divinos com os nossos barulhos inúteis.
Faz tanto tempo que Ele veio à Terra, e muitos de nós não viram ainda a Sua face. Muitos de nós ainda não O conhecem de verdade, ou olham para Ele apenas nos momentos em que as conveniências pessoais ou sociais assim o exigem.
E é precisamente nisto - creio eu - que está a causa de todas as nossas frustrações e desgraças. Há alguém entre nós que nós ainda não acolhemos ou que não conhecemos. É necessário então descobrir esta presença de Deus entre nós. Saber encontrar o Deus escondido, e saber ver a Sua ação e a Sua presença nos acontecimentos mais íntimos e desconcertantes de cada vida humana.
Muito mais que compreender, é preciso que vivenciemos esta presença de Deus entre nós. Viver lado a lado com Ele, que não é um Deus distante. Eis aí sua tenda no meio de nossas cidades, em nosso lar, no meio de nós. É como um vizinho e amigo. É preciso que Ele permaneça assim para sempre:
No meio de nossos problemas. Dentro de nossa família. Dentro do nosso trabalho. Dentro de nossa vida. Dentro de nossas alegrias e sofrimentos.
Ele sabe o que é alegrar-se, sabe o que é sofrer, estar cansado, ter fome e sede. Foi para isso que se fez um de nós.
É preciso saber encontrá-Lo sempre, e tê-Lo sempre conosco nesta vida, para que não O percamos na eternidade.
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