sexta-feira, 20 de junho de 2014

O AMOR À POESIA



          Meio envergonhado, devo confessar de público um pecado meu que hoje deploro e ao mesmo tempo dou sonoras risadas ao relembrá-lo: na minha juventude, continuando até a metade do tempo adulto, botei na cabeça que era poeta. Cheguei mesmo a publicar uma coleção de baboseiras a que dei o nome, já por si mesmo sugestivo, de "Versalhada"...
           Felizmente, não sei se foram os deuses do Olimpo ou o próprio Diabo, que me tiraram essa trágica ilusão da cabeça...
           Mas continuo amante inconteste da Poesia. Nos meus tempos de Faculdade (fiz Letras Portuguesa e Francesa, e mais tarde Latim e Grego Bíblico), cheguei a ler, no original, Virgílio, Ovídio e Horácio, ao lado de Dante, em sua "Divina Comédia", que li também na edição italiana.
           Hoje, me deleito, nas horas vagas, com os poetas brasileiros, que sempre foram capazes de me abrir estupendos mundos novos. Aliás, devo dizer que o Português é uma língua estupenda para a Poesia. É uma língua de admiração, de inocência, de alegria, cheia de calor humano e, portanto, de inconfundível humor.
           O humor, que é inseparável do amor, que se ri e se diverte da singularidade de cada ser individual, não porque este seja cômico ou risível, mas porque é singular, único. A singularidade, o ser inocente me pareceu sempre surpreendente, e a surpresa, neste plano humano, é tanto carregada de humorismo quanto de admirável.
           Amo os poetas brasileiros, independentemente do tempo e das "escolas" a que pertenceram. Acho os poetas brasileiros muito melhores do que os latino-americanos com quem mantive contato. Os poetas brasileiros me fascinam pela sua índole mansa, seu amor franciscano pela vida. Não falo de nenhum deles em particular, para não cometer eventual injustiça. Mas os respeito a todos, não encontrando neles nada de duro, de amargo, de artificial, nem de atitudes doutrinadoras, coisas que se encontram em tantos poetas hispano-americanos, por mais admiráveis que sejam.
          Que diferença entre Manuel Bandeira, ou Jorge de Lima, cujo amor é pelos homens e mulheres, e a maioria dos poetas marxistas escrevendo em espanhol, cujo amor é por uma "causa política"...
           Com que rapidez descobrimos, sob a superfície dessa dedicação "às causas", uma profunda corrente de ódio pelos que não rezam pela sua cartilha, anunciada pela exaltação em que cada série de imprecações  termina com um abraço entre o seleto grupo de militantes: - "MAS NÓS, Irmãos, ergueremos nossos punhos sobre a cabeça e marcharemos para o futuro."
            Voltando aos poetas brasileiros: como afirmei linhas acima, não cito nenhum deles em particular, mas não consigo me desvencilhar da devoção que tenho por Jorge de Lima e Manuel Bandeira, sobretudo porque são dois poetas que me entusiasmam profundamente, por apresentarem uma espécie de místicos de visão tanto cósmica quanto visceralmente cristã.
             E ainda, porque encontro neles o mesmo humor paradisíaco, contemplando e sentindo o Universo como um "jogo" -  o mesmo que sinto ao ler a Bíblia Sagrada, no capítulo oitavo do "Livro dos Provérbios"...

                                                           ********************

Aroldo Teixeira de Almeida é professor  aposentadode Línguas Portuguesa e Francesa, do Quadro Próprio do Magistério Paranaense.
Bacharel em Teologia pela Pontifícia Faculdade  de Teologia Nossa Senhora da Assunção, da Capital Paulista.



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