domingo, 1 de junho de 2014

AS ELITES E O POVÃO



        Dizem os estudiosos que existe um divórcio entre as elites e o povão, no seio do Cristianismo. Com efeito, parece-me que só os que têm vagar ou tempo para refletir por si mesmos, meditar, consultar e estudar, chegam, sendo sinceros a si mesmos, a descobrir a verdade de Cristo.
        O povão, a massa, desvairada pela vida rápida e angustiada, sucumbindo às preocupações do dia-a-dia, fascinada pelos cartazes pornográficos dos cinemas ou das TVs, dos slogans publicitários, das revistas da moda, deixa-se ir à deriva. Entre o povão, a parte descrente não dispõe, para fazer uma idéia da Fé, senão do espetáculo dos cristãos "do domingo".
         Como se explicaria esta evolução contraditória (uma elite subindo, e o povão à deriva)? A explicação é simples mas terrível: hoje, neste nosso mundo tumultuado, não é possível, para quem a perdeu, tornar a encontrar a Fé, a verdadeira face da Igreja, o autêntico Cristianismo, a não ser pelo estudo e pela investigação pessoal.
          É impossível aperceber-se  da importância da vida de Fé, olhando simplesmente os cristãos. Os descrentes com que nos acotovelamos todos os dias observam, em nossos rostos  aquela irradiação de júbilo que seduzia, na alvorada do Cristianismo, os pagãos do vasto império romano?
          Notam os descrentes em nosso comportamento a radiante Caridade fraternal que os levava a dizer: - "Vede como eles se amam", como nos testemunha a Bíblia Sagrada, e que levava os pagãos a querer juntar-se a esse foco de luz?
          Não sou pessimista, mas sei que as elites se convertem porque podem estudar, refletir, consultar os documentos do passado, e redescobrir assim, sob a casca, o calor de vida da Igreja.
           Isto, porém, é impossível à massa do povo; esta deve contentar-se com olhar, ver, olhar e VER-NOS, e me parece mais do que certo que esse espetáculo não a deixa decidir-se aos sacrifícios impressionantes exigidos por uma sincera conversão.
           E eu me ponho, com tristeza, a pensar em como a Igreja seria bela e atraente se não houvesse cristãos, parodiando um artigo recente do escritor francês L. Evely, em seu livro que acabo de ler, "Témoignage chrétien..."
           Verifico que nas elites verifica-se um retorno à Fé autêntica. Os inumeráveis "círculos" de cristãos, quer se ocupam da Bíblia, da Liturgia, do Apostolado, da Espiritualidade Conjugal, caracterizam-se todos por uma sede intensa de instrução religiosa e de verdade revelada.
            Eles redescobrem a Fé sobrenatural porque procuram  a Palavra de Deus, a Liturgia da Igreja (por exemplo, a oração diária da "Liturgia das Horas", que ilumina a vida cristã diária, de madrugada a madrugada).
            Pedem luzes teológicas aos seus pastores que, muitas vezes, não esperam tal pedido, mas que, desconcertados a princípio, não tardam a deixar-se conquistar também por esse ímpeto juvenil de suas ovelhas...

                                                         *******************

Aroldo Teixeira de Almeida é bacharel em Teologia pela Pontifícia Faculdade de Teologia Nossa Senhora da Assunção, da Capital paulista.


                                                        *******************


     

Nenhum comentário:

Postar um comentário