terça-feira, 19 de abril de 2016

A ESPIRITUALIDADE DO ENGAJAMENTO









            Atualmente, os mistérios da natureza se nos manifestam  -  e me refiro particularmente a mim mesmo  -  de maneira completamente nova, seja na forma de ameaça ou de promessa.
            Como cristão-católico e leigo que sou, sinto, cada vez mais, a necessidade de que todos nós nos abramos ao mundo  e ao seu desenvolvimento integral.  Tenho a convicção de que em nossa vida prática o pensamento religioso tende a conquistar uma posição que, de um lado, esteja radicado na Fé sobrenatural e, de outro lado, na realidade deste nosso mundo em contínua mudança.
             Nesta perspectiva, penso ser necessário que nos empenhemos com todo o nosso esforço no sentido de descobrir uma espiritualidade leiga, isto é, uma espiritualidade que possa realmente ser vivida por homem e mulher que trabalham de manhã à noite no meio secular, uma espiritualidade de engajamento cristão, na qual se possa reconhecer a realidade divina, na transparência dos acontecimentos históricos do Universo.
            Este mundo, no qual vivemos, tem um valor salvífico para nós. Em outros termos, trata-se de unificar a Fé sobrenatural e a responsabilidade frente ao mundo, e compatibilizar o trabalho profano com o serviço divino, ou seja, de nos santificarmos no engajamento ao mundo.
            Não tenho nenhuma dúvida de que também o cristão  -  bem como o não-cristão e até o ateu confesso  -  deverá investir todas as forças e energias de sua inteligência para acelerar o desenvolvimento transformador do mundo. Todo o investimento da inteligência precisará ter como meta a maior humanização do mundo, dentro da máxima responsabilidade cristã.
            Sei perfeitamente que hoje o desenvolvimento técnico já atingiu tamanho grau de intensidade, que se tornou inevitável certa crise periódica. E se nesta hora de crise eu negasse minha colaboração de cristão,  seria infiel a Cristo meu Senhor.
            Há pessimistas que pensam que as nossas condições de trabalho sacrificam cada vez mais a dignidade da pessoa humana. Pensam eles que neste mundo tecnizado será difícil encontrar espaço para a alegria e para o desenvolvimento pessoal, e explicam: se homem e mulher forem vítimas da mecanização, da automatização, neste caso também está em perigo o de se sujeitarem a sempre maior uniformização, a qual ameaçaria a própria individualidade da pessoa humana.
            Em outras palavras, homem e mulher correriam o grande perigo de serem dominados pela técnica, em vez serem os seus dominadores.
            Estou seguro, porém, de que há indícios de um futuro melhor, no qual a máquina, o computador, servirá totalmente ao homem e à mulher, aliviando-lhes sempre mais o peso do trabalho braçal e diminuindo suas horas de serviço no decorrer do dia. Em consequência, homem e mulher poderão empregar o tempo e as energias poupadas para aumentar a esfera de sua própria liberdade.
            E eu me pergunto pelo sentido do trabalho humano ao qual todos nós estamos sujeitos. Costumo ouvir que devo realizar meu trabalho com espírito de penitência. Mas, se eu for sincero, sinto-me um tanto mal quando meu trabalho me é apresentado unicamente sob o aspecto de penitência e castigo, em certas pregações em nossos templos..
            Tenho profunda convicção de que meu trabalho não deverá ser visto por mim apenas e unicamente à sombra da cruz.  Mas também, e com muito mais força, deverão ser vistos e acolhidos à luz dos mistérios da criação, da encarnação, da ressurreição e da parusia do Senhor Jesus. Isto porque a unidade dinâmica da criação redimida reclama o meu engajamento consciente.
            O desenvolvimento do Universo exige uma solidariedade humana de tipo universal, solidariedade sem barreiras raciais ou de classes de qualquer espécie. Tanto o medo angustioso de perecer, como a esperança de sobrevivência coletiva, contribuem para que possamos desenvolver uma maior temperatura social, resultando numa maior socialização, de que já falava o saudoso Papa João XXIII.
            Neste processo, meu trabalho deixa de ter só o sentido de ganhar o pão de todos os dias. Por uma reflexão crítica, eu tenho que ver nele, sempre mais, o seu valor humano, pois o respeito à pessoa que trabalha, no seu ato de dominar a Terra com toda a responsabilidade, ajuda a que homem e mulher realizem em si mesmos a imagem e semelhança de Deus Criador. Deus os criou com potências espirituais, destinadas a investigar os mistérios do Universo, de inventar novas possibilidades para sua atuação, pois Deus não Se contentou com uma Criação acabada desde o começo dos tempos.
            De certa maneira, Deus Criador prolonga Sua atividade criadora através do homem e da mulher em todo o tempo, não sendo eles, porém, concorrentes do Criador, já pelo fato de a atividade deles encontrar limites nas próprias leis da Natureza.
            Entretanto, diante de suas tarefas no mundo, homem e mulher cristãos, de nenhuma forma, poderão cruzar os braços, porque o sucesso ou o fracasso de um novo mundo, de um mundo mais humanizado e cristão, dependerá sempre das energias espirituais investidas em nosso engajamento, como co-criadores que somos,  com  o nosso Deus Criador.

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Aroldo Teixeira de Almeida é bacharel em Teologia Sistemática pela Pontifícia Faculdade de Teologia Nossa Senhora da Assunção, da Capital paulista.

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