Nesta tarde de sábado, véspera do domingo, "Dia do Senhor", inclino meus ouvidos às palavras de Paulo sobre a Caridade de Deus. Está na primeira carta aos Coríntios, capítulo XIII:
- "Ainda que eu fale as línguas dos homens e dos anjos, se não tiver Caridade, sou como bronze que ressoa ou como címbalo que retine. Ainda que eu tenha o dom da profecia, ainda que conheça todos os mistérios, que possua toda a ciência; ainda mesmo que tenha toda a Fé, capaz de transportar montanhas, se não tiver Caridade, não sou nada. Se eu distribuir meus bens para alimento dos pobres; se entregar meus corpo às chamas, se não tenho Caridade, tudo isto de nada me aproveita".
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Não há engano, benévolo leitor: a Caridade é paciente, é boa; a Caridade não é invejosa, não se ufana, não se ensoberbece; nada faz que não convenha, não busca seus próprios interesses, não se irrita, não se ofende, não folga com a injustiça, mas alegra-se com a verdade; tudo suporta, tudo crê, tudo espera, tudo sofre.
A Bíblia Sagrada nos garante que a Caridade jamais passará. Trata-se de profecias? Elas terão fim. De línguas? Elas cessarão. De ciência? Ela chegará a seu termo. Isto porque em parte conhecemos e em parte profetizamos. Ora, quando vier o que é perfeito, o que é parte, apenas, então passará.
E Paulo exemplifica:
- "Quando eu era criança, falava como criança, pensava como criança, julgava como criança. Desde que me tornei adulto, abandonei as coisas de crianças. Agora, vejo como que em um espelho, de um modo obscuro; então, verei face a face. Agora conheço em parte; então, conhecerei como sou conhecido. Agora permanecem essas três realidades: a Fé, a Esperança e a Caridade. Mas a maior é a Caridade."
Não há engano, benévolo leitor: o Apóstolo disse realmente que de nada lhe serviria distribuir todos os bens para sustento dos pobres, se não tivesse Caridade. Esta palavra é claramente diferente da filantropia, a bondade natural de que o mundo se gloria, quando cansa de se gloriar por outras coisas, da verdadeira Caridade que é o amor do próximo em Deus e por Deus.
Tudo o que escrevi linhas acima, e mais o que se costuma dizer sobre a bondade, perde precisão, desmancha-se num humanitarismo fácil e otimista, quando me esqueço que esta virtude, a Caridade, é dom de Deus e fonte verdadeira de todo amor.
Gosto de vinho, e hoje mesmo, no almoço, degustei uma bela taça. Mas sei, perfeitamente, que o perfume do vinho não dessedenta. Na padaria, o cheiro quente das fornadas de pão não sacia. Se agora eu disser que sei onde se encontram realmente o pão e o vinho, não bastar rabiscar num caderninho e pensar neles, à noite, com olhos úmidos de enternecimento.
Do mesmo modo, quem ouviu a boa notícia da Fé e a promessa da Esperança, não poderá beber e comer da notícia e da promessa; tem que ir, tem de pôr-se a caminho, tem de procurar e chegar à casa da reconciliação, tem de atravessar a soleira de uma porta.
Feito isto, junto do altar conhecerá que Deus faz ainda maior caso que nós da Palavra, do Pão e do Corpo, e que nos entrega tudo, como entregou Seu próprio Filho por nós na Cruz.
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Ousado e feliz é o homem ou a mulher que se aproxima daquela pedra, porto ou recife; ousado e feliz é o homem ou a mulher que pede tanto e tanto aceita. Porque é terrível a Caridade de Deus escondida no Pão que Ele nos dá na Eucaristia.
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Aroldo Teixeira de Almeida é bacharel em Teologia Sistemática pela Pontifícia Faculdade de Teologia Nossa Senhora da Assunção, da Capital Paulista.
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