sexta-feira, 15 de abril de 2016

CONFISSÃO DE UM BLOGUEIRO



            Na minha modesta condição de blogueiro católico, tenho observado e até sentido na pele um fenômeno curioso a respeito das objeções que se costumam levantar contra a minha igreja, a Igreja Católica, já com mais de dois mil anos de existência.
            Creio sinceramente que, a respeito dessas objeções, o descrente tem razão. Diz ele, por exemplo, que a Igreja é intolerante. E ele tem carradas de razão.  Ela é, sim, intolerante, e muito mais do que imagina o descrente. Diz ele, ainda, que a Igreja perdeu o prestígio no mundo, e realmente Ela o perdeu desde o dia da crucificação de Jesus.
             Que a moral católica é moral de escravos; concordo, desde quando nossos sacerdotes, no ritual da ordenação, abaixam a cabeça para receber a tonsura que, todos sabem, é o sinal dos escravos. Muitos dizem maldosamente que os católicos são camelos: e eu, católico que sou, me ajoelho para que o Senhor Jesus disponha de minhas corcovas de humílimo camelo, como e quando Ele quiser...
             Que o homem, o Cristão, é apenas aquilo que come; e eu respondo que o Cristão Católico  tem a suprema ventura de comer o Corpo de Deus, na Eucaristia, para se tornar realmente aquilo que come...
             Atacam o ritualismo católico, dizendo que nossos rituais não passam de teatro de crianças, e eu me confesso contentíssimo com essa descoberta, porque sei que o ritual católico é feérico como um teatro de crianças, pela completa ausência do elemento sensacional, como são os contos de fada, lidos intensamente na minha infância. Neles, existe verdadeira catarse e alegria, depois que as crianças sabem exatamente o que vai acontecer no capítulo seguinte.
            Lembro-me perfeitamente: na primeira vez em que a fada transforma o vestido sujo da "gata borralheira" num outro mais bonito, da cor do céu com todas as suas estrelas, eu fiquei tão espantado, como se isso fosse a coisa mais sensacional do mundo.
            Isto porque eu era criança, e a criança sente um verdadeiro deleite na espera dum acontecimento tão banal, como eu sentia com a chegada de meu pai em casa, na hora do jantar, depois de fechada a sua barbearia.
            Passada a adolescência, perdi este senso, o gosto de brincar com a esperança em Deus e, com isso, fiquei com  a sensação de ter-me tornado o mais infeliz dos mortais.
            Voltando às linhas acima, em que falei do ritual cristão, concordo com o descrente, quando ele diz que o ritual católico é realmente um teatro só para crianças. Pois  é preciso ser como as crianças, para aceitar o sentido profundo das cenas muito simples e das palavras decoradas. A palavra decorada do ritual quer dizer palavra do coração, palavra gravada, guardada, para ser depois pronunciada no diálogo da boa vontade, quando nos apresentamos diante da Eucaristia cheios de contentamento, carregando essas palavras em nosso coração, e já sabendo de antemão as muitas outras que haveriam de vir.
            Em outros tempos, estudante de Filosofia e Teologia em São Paulo, andei em rodas muito estranhas, hesitando entre a sociedade sem classes, marxista, não sabendo se deveria levantar a mão direita dura como um dardo, ou a esquerda com o punho fechado em sinal de revolta contra as perversões do capitalismo.
            E agora, diante do sacerdote que me apresenta a Hóstia Consagrada, levanto as mãos como as orantes antigas, cantando as palavras decoradas: - "Suscipe me, Domine, secundum misericordiam tuam" -  (Recebei-me, Senhor, segundo a Tua misericórdia).
            E aí está, benévolo leitor, como acaba esta estória, um tanto quanto estranha, estando eu ainda desarrumado de corpo e alma, considerando-me porém, ao gosto das novelas policiais  que tanto aprecio, cheio de felicidade, como um humilde prisioneiro de Deus.

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Aroldo Teixeira de Almeida é bacharel em Teologia Sistemática pela Pontifícia Faculdade de Teologia Nossa Senhora da Assunção, da Capital paulista.
             

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