Um Evangelho não vale só pelas informações históricas que oferece sobre Jesus de Nazaré. Quem lê o Evangelho só para obter informações sobre o que aconteceu no passado, no tempo de Jesus, pode até chegar a conclusões erradas.
Quem vê de longe um carro fazendo muita curva na estrada pode concluir: - "Deve ter muito buraco naquela estrada."
Ou então: -"Estrada perigosa! Tanta curva!
Mas não era nada disso. Aquele motorista balançava o carro, porque queria acordar o companheiro que dormia no banco traseiro!
Assim é o Evangelho de Marcos, por exemplo. Algum leitor, vendo Marcos insistir tanto nos defeitos dos discípulos de Jesus, pode concluir: - "Aqueles primeiros discípulos não prestavam mesmo!"
Mas não era nada disso. Marcos estava querendo acordar o pessoal de sua comunidade. Estava colocando um espelho na frente deles. Por isso insiste tanto nos defeitos dos primeiros discípulos! Era para que as comunidades cristãs de seu tempo tomassem consciência dos seus defeitos e se convertessem. E não só! Era, sobretudo, para que não desanimassem diante dos seus defeitos e diante das muitas dificuldades por que passavam.
Com efeito, o mesmo Jesus, que tinha acolhido os doze depois da negação e da traição, continuava no meio das comunidades, sempre pronto e disposto para acolhê-las e chamá-las de novo!
Às vezes, quando leio um bom romance, por exemplo o "Dom Casmurro", do mestre Machado de Assis, eu me identifiquei tanto com a sugestiva pessoa de Capitu, que cheguei a publicar artigo sobre ela, e dei até seu nome a um livro que publiquei tempos atrás. É justamente isso que acontece quando se lê um bom romance. O mesmo fazem as novelas da televisão. Tenho experiência cá de casa, com minha mulher e com a netinha Isabela... É o dia inteiro falando deste ou daquele personagem da novela das oito...
Na medida em que a gente se envolve com algum dos personagens do romance ou da novela, o seu enredo me leva (ou leva (Você) a percorrer um caminho e eu acabo lá onde o autor do romance ou da novela quer que a gente chegue.
Pois é isso mesmo que acontece com o Evangelho de Marcos, que eu tomei como exemplo. Marcos não só informa sobre aquilo que Jesus fez no passado, mas também quer que eu (e Você) me identifique com os discípulos de Jesus e me envolva com os problemas deles, sinta o entusiasmo deles e viva também a crise que eles viveram.
Marcos quer que eu (e Você) percorra o caminho que aqueles primeiros discípulos percorreram com Jesus, desde a Galiléia até Jerusalém.
E fazendo assim, é que eu (e Você) elimino o "fermento dos fariseus e dos herodianos", e me torne melhor discípulo (ou discípula) de Jesus de Nazaré.
É com esse espírito que devemos ler os Evangelhos, que trazem Jesus até nós.
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