Como sou leitor um tanto quanto desvairado, quando não tenho um bom livro à mão para ler, chego até ao despautério de ler papéis de embrulho e panfletos de supermercado...
Seria muito bom para mim ler com boa vontade um dos meus autores prediletos, como Jacques Maritain, Karl Adam, Romano Guardini, Rainer Maria Rilke, Leonardo Boff. Mas ser-me-ia sumamente melhor ler São Tomás de Aquino em sua "Suma Teológica", Santo Agostinho em suas "Confissões". Mas, melhor do que tudo, seria ler a Bíblia Sagrada, depois de rezar um simples "Pai-Nosso", pedindo a Deus o socorro da Fé, da Esperança e da Caridade.
Se eu apenas quisesse ler tudo, ler mais e mais ainda, e ficar apenas ruminando o que li, não me converteria para Deus. Num certo ponto de minhas leituras, num determinado momento de minha vida, foi-me preciso escolher. Tive a convicção de que não ganharia a Fé pelo aperfeiçoamento de minha capacidade de ler. Nem ganharia a Esperança e a Caridade pela ginástica metódica do meu nervo lúdico: essas realidades são dons de Deus, que tenho de pedir continuamente na prece, o que de antemão já me é dado pela providência de Deus.
E não me basta apenas pensar e querer: tenho de pedir falando, levando meu corpo, minha voz viva ao ouvido consagrado. Tenho de entrar na objetividade de Deus. Depois do encontro, em que Deus e toda a Comunhão dos Santos me ajudou, me chamou, me procurou, é a vez dele, desse ajudado, desse chamado. É então a minha vez de jogar, cabe-me agora fazer o lance decisivo de minha vida.
É Deus quem me chama e me ajuda, mas de repente eu fico numa situação inaudita, porque é minha obrigação responder. Quase se pode dizer que nesse instante incrível há um silêncio de Deus. Todos os anjos e santos de minha devoção se calam. Há um silêncio, uma espera, um frêmito de impaciência, em que somente ecoa, no fundo de minha alma, esse chamado que exige de mim uma resposta livre e consciente.
E nesse silêncio augusto e terrível, eu me sinto subitamente só, terrivelmente livre e inundado pela misericórdia de Deus. Estou só e livre, e nesse instante tenho de fazer um pequeno ato, uma insignificância, um ato de penitência, um gesto de amor, uma coisa de nada, mas que tem a espantosa capacidade de penetrar no coração de Deus.
É então que eu me converto, ou melhor, é Deus que me converte para Ele, retoma um diálogo interrompido por minha culpa, faz desaparecer hesitações e receios infundados, porque Ele já me deu a Sua Palavra, e A deu como Corpo e continua me dando como um Pão.
A Caridade de Deus entra pelos fundamentos de minha vida, desce à simplicidade de meus melhores desejos, converte-me com a Palavra, nutre-me com um Pão, reúne-me num Corpo.
A Graça de Deus habita em mim e eu me considero então o mais feliz dos mortais.
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Aroldo Teixeira de Almeida é bacharel em Teologia Sistemática pela Pontifícia Faculdade de Teologia Nossa Senhora da Assunção, da Capital paulista.
A Graça de Deus habita em mim e eu me considero então o mais feliz dos mortais.
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Aroldo Teixeira de Almeida é bacharel em Teologia Sistemática pela Pontifícia Faculdade de Teologia Nossa Senhora da Assunção, da Capital paulista.