terça-feira, 5 de fevereiro de 2013

REPENSANDO O PROBLEMA DO MAL


     Os tempos modernos afirmam a autonomia  do mundo diante de todas as instâncias. De seu lado, os ateus e os teistas muitas vezes partilham do mesmo pressuposto mitológico de uma intervenção direta do divino: se Deus quisesse, não teríamos o mal, e o mundo seria perfeito.
       Lembremos o famoso dilema do grego Epicuro:

      -"Ou Deus quer tirar o mal do mundo, 
      mas não pode.
      Ou pode, mas não quer tirá-lo.
      Ou não pode, nem quer; 
      ou pode e quer.
      Se quer e não pode
      é impotente.
      Se pode e não quer, 
      não nos ama.
      Se não quer, nem pode,
      não é o Deus bom que nos foi revelado e, 
      além disso, 
      é impotente também.
      Se pode e quer
      - e isto é o mais seguro -
      então, de onde vem o mal,
      e por que Ele não o elimina?"

      Como se vê, o dilema de Epicuro - que propõe não haver lugar para o mal se for verdade que Deus é bom e onipotente -, quando assimilado em outro contexto cultural, se transforma em dificuldade insuperável.
Por isso os filósofos do Iluminismo - eles próprios vítimas desse preconceito - acabam proclamando o fracasso de qualquer questionamento religioso a respeito.
   Fracasso para homem e mulher crentes, pois não é crível um deus que, podendo, não quer, ou que querendo, não pode. Fracasso principalmente para o ateismo moderno que se apóia no mal, porque, ao atribuí-lo a Deus, nega a autonomia do mundo.
      Esse fracasso afeta somente a argumentação religiosa em nosso mundo secular. Entretanto, a filosofia e a teologia católicas, levando em conta com todas as consequências a força do secularismo,  como se Deus não existisse, obriga-se a uma reflexão a partir de baixo, respeitando a autonomia do mundo em todo o seu funcionamento.
      Então o problema costuma estruturar-se em três passos diferentes. A ponerologia (discurso sobre o mal - ponerós = mal, no grego), mostra que a finitude do ser, constitutivamente carencial e contraditória, torna inevitável o surgimento do mal. 
      A explicação religiosa parte desse resultado e indica que toda visão do mal é uma resposta, ou mesmo uma Fé que deve ser justificada.
    Essa explicação cristã do mal que, no meu entender, pode romper o dilema de Epicuro, consegue alcançar grande coerência, e apresentar Deus como o Antimal por excelência.
     Verdade esta conquistada através de longa e tantas vezes dolorosamente dura travessia da História,  que faz eco glorioso das palavras bíblicas pronunciadas no princípio:
     - "E Deus contemplou tudo que fizera, e era  de verdade muito bom" (Gn 1,31).
      
      
      

Um comentário:

  1. "A dor é o megafone de Deus para advertir o mundo moralmente surdo". C.S.Lewis

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