sábado, 28 de fevereiro de 2015

A PROPÓSITO DE ATEÍSMO E DE ATEUS



            Até pouco tempo discutia-se a possibilidade efetiva de haver ateus autênticos: seria possível, de fato, a uma criatura humana prescindir de Deus, ou o ateísmo seria atitude mais ou menos esnobe, incapaz de resistir a provas mais duras e a situações mais críticas?                                                                     Lembro-me que, estudante de Teologia na Pontifícia Faculdade de Teologia Nossa Senhora da Assunção, na Capital paulista, passava as manhãs de domingo na favela da Vila Prudente, em trabalho de catequese junto aos jovens favelados.
            Um cidadão, já de certa idade, costumava frequentar às vezes minhas palestras, e eu, perguntando-lhe um dia se acreditava em Deus, obtive dele a seguinte resposta:
            - "Sou ateu, sim, e maçom,  graças a Deus."
            Pois é; cheguei à conclusão de que há um fenômeno perfeitamente verificável, a cada instante: há pessoas, sempre mais numerosas, que dizem não crer em Deus, e pela simples razão de não sentirem necessidade dEle, e isto nem na linha do pensamento, nem da ação; nem na vida privada, nem na pública; nem nas horas fáceis, nem nas difíceis.
            Este ateísmo tranquilo, característico do nosso século, é muito mais grave do que o ateísmo militante, o agressivo, por detrás do qual seria fácil descobrir muito ressentimento e muita mágoa.
           Fala-se bastante em morte de Deus. Para muitos a expressão significa apenas liquidação das idéias de Deus, construídas à imagem e semelhança do homem. Na medida em que estas idéias são depuradas, há quem substitua a Fé ingênua de criança por uma Fé  esclarecida e adulta.
           Quem varre Deus do pensamento em nome da Ciência e da Técnica, talvez, um dia, descubra que continuam e continuarão válidas indagações essenciais, para além do corpo da Ciência e fora do alcance de outros objetivos.
           O importante no caso, como eu o entendo, não é começar a infindável polêmica em torno do ateísmo. Trata-se de registrar o fato da existência de homens e de mulheres que são ateus, mas nem por isso abririam mão do direito e do dever de serem humanistas, no sentido de se preocuparem, e se ocuparem, ao máximo, com a criatura humana, com sua libertação, com sua promoção social, com sua realização pessoal em plenitude.
           Quem convive com ateus sinceros, como tive a ventura de convier com muitos deles na favela, em São Paulo, é levado a esta conclusão:
            - o Cristianismo nos leva a amar a Deus e ao próximo. Ora, quem ama o próximo já cumpriu metade da Lei;
            - quem ama de verdade e profundamente o próximo, mesmo sem saber e até sem querer, já ama o Criador e Pai de todos os pais.
            Comovia-me bastante conviver com alguns ateus, que eram capazes de servir de exemplo a quem tem Fé, pelo amor à verdade, à justiça e à paz. Quem vive dessa maneira a verdade, e quem tenta assim construir a paz na comunidade em que vive, seja na favela, seja nos Jardins, tenho a certeza de que verá a Deus, e que Deus o acolherá  em Seu Reino.

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Aroldo Teixeira de Almeida é bacharel em Teologia Sistemática e professor aposentado do Quadro Próprio do Magistério Paranaense. E nesta condição, está ao lado da briosa luta dos Professores Paranaenses em greve pela defesa de seus direitos não respeitados pela oligarquia governamental.


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sexta-feira, 27 de fevereiro de 2015

UMA PÁGINA DO MEU "DIÁRIO", EM 21 DE FEVEREIRO DE 2014


          "...Era noite, e o Carlão telefonou dizendo que, se quiséssemos ver a Raquel ainda viva, fôssemos imediatamente ao Hospital Erasto Gaertner.
          Achei que a Isabela, ainda pequenina, não poderia entrar; então eu a abracei, e ficamos ambos sentados à beira da cama, chorando, enquanto a Cleusa foi com o Carlos.
          A Raquel partiu para a Casa do Pai de todos os pais, de madrugada.
          Faz hoje quatro anos e meio, de seu falecimento.
          Que Deus a tenha na Sua paz."
           Saudades de sua filha Isabela, e de seus pais Cida e Aroldo."

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UNIÃO DAS IGREJAS? UNIÃO, PRIMEIRO, EM MIM MESMO!



            Atualmente fala-se muito em ecumenismo, em união das igrejas cristãs.                                  
            - "Des hommes comme Saint Séraphim, Saint François d´Assise et bien d`autres, ont accompli dans leur vie l´union des Eglises."
            Essa profunda e simples declaração de um Bispo Ortodoxo, Eulógio, - que encontrei lendo um texto do monge cisterciense norte-americano, Thomas Merton,  -  deu aos monges de seu tempo a chave do ecumenismo e, na realidade, ele a dá a todos nós, na Igreja de hoje.
            E o que essa intuição tem a ver comigo?
            Muito simples: se eu não tiver em mim unidade, como poderei pensar e menos ainda falar em união entre cristãos? No entanto, parece-me evidente que, procurando a unidade para todos os cristãos, consigo também para mim mesmo, a unidade que almejo.
            Neste ponto, lembro de uma heresia muito insinuante  nesta época em que vivemos: a heresia do individualismo exacerbado, ao crer-se em uma unidade inteiramente auto-suficiente e afirmar essa "unidade" imaginária contra todos os demais.
            Quando  procuramos  afirmar essa unidade negando haver qualquer relação seja com quem for, rejeitando a todos no universo até chegar-se a nós mesmos, o que resta para ser afirmado? E eu concluo: mesmo se houvesse algo a ser afirmado, não nos restaria mais fôlego para afirmá-lo...
             O verdadeiro caminho, me parece, é justamente o contrário: quanto mais eu for capaz de afirmar os outros, dizer-lhes "sim"  em mim  e a mim mesmo neles, tanto mais real eu serei. Serei plenamente real se meu coração conseguir dizer "sim" a todos os meus irmãos humanos, tenham eles ou não tenham a mesma Fé que eu.
             Serei melhor católico, se puder afirmar a verdade que existe no Catolicismo e até ir além, não refutando todos os matizes que encontro, por exemplo, no Protestantismo.
              Assim também em relação ao espiritismo e, indo mais longe, aos hindus, aos budistas, etc. Isso, para mim, não significa sincretismo, indiferentismo, camaradagem vazia e despreocupada que tudo aceita sem refletir. Existe por aí muita coisa que eu não posso "afirmar" nem "aceitar". E, no entanto, é preciso em primeiro lugar dizer "sim" quando realmente isso é possível.
              Se eu me afirmo como Católico, e simplesmente negando tudo que é protestante, espírita, muçulmano, judeu, hindu, budista, etc., no fim descobrirei que, em mim mesmo, não resta muita coisa com que me possa afirmar como Católico; e certamente nenhum sopro do Espírito Santo com o qual possa fazer essa afirmação.
              Daí, a conclusão que me atinge profundamente:
              Só poderei falar de modo autêntico e verdadeiro de união entre os cristãos, se antes de tudo eu conseguir realizar essa união dentro de meu próprio ser como cristão.

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(nesta semana está fazendo quatro anos e meio do falecimento de minha filha Raquel, no Hospital Erasto Gaertner, de Curitiba, reiterando minha súplica a Deus para que Ele a tenha na Sua paz).


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segunda-feira, 23 de fevereiro de 2015

A FELICIDADE POSSÍVEL



            A experiência vivenciada no decorrer da vida mostra-me que existem diversas maneiras de ser feliz, e todo homem e toda mulher possuem (ou deveriam possuir) a capacidade de fazer de sua vida o que ela precisa ser para que ambos consigam uma dose razoável de felicidade.
        Por que é então que todos nós perseguimos a nós mesmos com exigências ilusórias e nunca satisfeitas, até nos conformarmos a qualquer padrão de felicidade que seria bom não só para nós, como também para toda gente?
            No meu caso: por que é que eu não consigo satisfazer-me com o dom pessoal de felicidade que Deus me ofereceu, gratuitamente, junto com o dom da vida?
           Por que é que estou sempre à procura de uma felicidade que seja antes de tudo aprovada pelas revistas, jornais, rádio e televisão?
            Talvez seja por eu não acreditar numa felicidade que me seria dada de graça. Talvez eu creia que não sou feliz com a minha eventual felicidade, porque ela ainda não me chegou atada a uma etiqueta de mercado, e com o preço já devidamente estipulado.
             Às vezes chego a pensar que me sinto um perfeito idiota por ficar à mercê de pessoas e empresas que me oferecem diariamente a felicidade a preços módicos, bastando-me apenas assinar uma folha de cheque, ou dar um telefonema...
             A última e melhor coisa desejada por esses mercadores da felicidade é que o cliente fique satisfeito. De nada eu serviria a esta nossa sociedade mercantilista, se eu não estivesse sempre no ato de agarrar essa pretensa felicidade que me é oferecida.
             Creio fiel e seguramente que Deus me dá a liberdade de construir minha própria vida dentro da situação social e familiar em que me encontro, que é o dom de Seu amor para comigo.
            Creio que sou perfeitamente capaz de encontrar a felicidade nesta vida que Deus providenciou para mim, e na qual posso andar, satisfeito e em paz, ajudado pela Sua graça.
             Acontece que, infelizmente, como pecador que sou, tenho necessidade de algo que julgo de importância vital para mim: preciso da aprovação de todos que me rodeiam. E esta necessidade de aprovação, não sendo bem administrada, pode destruir minha capacidade de felicidade.
             O problema crucial, para mim e para todos, é que esta aprovação tem de ser comprada  -  não uma vez, não dez ou vinte vezes, mas mil vezes por dia!...
             E como eu poderia ser feliz com uma felicidade que me foi dada gratuitamente por Deus, se ela não for antes sancionada  pelo Planalto, pela Veja, ou pela Rede Globo?
              Ó tempora! Ó mores!  -  exclamaria o velho tribuno Marco Túlio Cícero, apostrofando o bandoleiro Catilina em discursos nos gloriosos tempos da Roma antiga, e que eu deveria traduzir para o Português nas minhas aulas de Latim, sexta série ginasial, ministradas pelo meu saudoso professor Américo Caselato!... 

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Aroldo Teixeira de Almeida é professor aposentado do Quadro Própria do Magistério Paranaense, e aproveita o ensejo para manifestar apoio à greve dos Professores, classe nem sempre respeitada pela oligarquia de plantão.

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sexta-feira, 20 de fevereiro de 2015

UMA PÁGINA DE MEU DIÁRIO - 16/02/2015



        A "Liturgia das Horas" me informa hoje que a Fé não apaga nem o tempo nem a saudade. A Fé também não apaga a dor nem afasta a morte. E uma dessas mortes, para mim muito dolorosa, foi a morte de minha filha Raquel. Faz hoje quatro anos e meio que ela partiu para a Vida Eterna.  Apenas a Fé confere suporte a nós que ficamos, ajudando-nos a sobreviver.
        A Fé é um presente de Deus que me faz perceber o amor dos amigos e da comunidade no momento em que eu, chorando, me lembro da partida definitiva daqueles que amei, e que sempre amarei: meu pai Noé, minha mãe Julieta, meu irmão Valdir, minha irmã Darcy, minha filha Raquel, meu filho Júlio...
        É movido pela Fé e pela saudade que tenho a certeza de que meus mortos queridos não estão mortos: somente passaram para o outro lado da vida. Para a Casa do Pai de todos os pais e de todas as mães.
        Descansem na paz do Senhor meu pai, minha mãe, meu irmão, minha irmã, meu filho, minha filha.
        E fique eu só, neste mundo, cultuando-lhes a memória!
        Não sei explicar o motivo, mas hoje eu me sinto acometido por uma tristeza inexplicável, apesar da alegria que me deu, de manhã, quando chegaram do litoral minha esposa Cleusa e minha neta Isabela.
         Até nosso pequeno cachorro, o Bili, pareceu reviver, depois da apatia que se abateu sobre ele com a ausência, principalmente da Isabela, que sempre o abraça e o chama de "meu filho..."
         Tentando afastar a tristeza estranha que hoje me acometeu, tomei o livro do Leonardo Boff, "O Pai nosso", procurando nele algo que aliviasse meu espírito. E o texto que encontrei eu o transcrevo aqui, pois quero fazer dele minha oração de todo dia:
          - "Se eu falto ao Amor ou se falto à Justiça, afasto-me infalivelmente de Vós, ó meu Deus, e meu culto não é mais que idolatria. Para crer em Vós, preciso crer no Amor e na Justiça, e vale muito mais crer nestas coisas, que pronunciar Vosso nome. Fora o Amor e a Justiça, é impossível que eu alguma vez Vos possa encontrar. Mas aqueles que tomam o Amor e a Justiça por guia estão no caminho verdadeiro que os conduzirá até Vós."
           E eu só posso acrescentar:
           Assim seja, meu Senhor!



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terça-feira, 17 de fevereiro de 2015

MÁGICOS DO MUNDO INTEIRO, UNI-VOS!



          Quem de nós nunca foi a um circo? Eu confesso: desde criança fui sempre vidrado em palhaços, em mágicos, saltimbancos, malabaristas, e toda a parafernália que o circo nos oferece.
           E os mágicos? Fico literalmente de boca aberta, até hoje, aos setenta e nove anos de idade, quando tenho a oportunidade de ir a um circo aqui no bairro; viro criança, olhos escancarados, quando vejo um mágico fazendo as suas travessuras, transformando flores em passarinhos, fazendo cair flores do céu,  ou dando misteriosamente sumiço a uma de suas ajudantes...
            Gosto de ver mágicos no palco, chamando pessoas como testemunhas, como fiscais, pedirem a cinco, dez ou quinze pessoas, objetos de valor  -  anéis, relógios, dinheiro, -- fazendo tudo sumir, enquanto passarinhos voam sobre os espectadores, e cada dono descobre nas próprias mãos o objeto que cedera para  desaparecer e aparecer de novo...
            Ainda me lembro de um mágico que começou o espetáculo pedindo desculpas por ter começado seu número com uma hora de atraso... Alguém do auditório, certamente combinado com ele, protestou contra a demora com que ele chegara. Pois o mágico puxou um bruta relógio e provou, para quem quisesse ver, que não eram nove da noite como o público pensava, mas oito da noite... Pediu que cada um conferisse o próprio relógio, e não é que todos os relógios da platéia transbordante de gente mencionavam vinte horas  -  oito da noite?
            E Você, meu benévolo leitor, gasta também de mágicos?  Diga-me, qual foi a mágica mais impressionante e, ao mesmo tempo, mais bela, de que se lembra?...
             Pois é, dá-me agora a honra de ler estes meus versos:

                                           Mágicos do mundo inteiro, uni-vos!
                                           Não vos contenteis
                                           em fazer desaparecer moedas ou relógios,
                                           transformando-os em pássaros
                                           que sobrevoam a platéia
                                           Não vos basta
                                           fazer o auditório inteiro descobrir
                                           nos próprios relógios
                                           a hora
                                           que bem quiserdes...
                                                             
                                                               Não menosprezo
                                                               os prodígios
                                                               com que assombrais a criançada
                                                               e impressionando até gente grande
                                                               E eu vos pergunto: 
                                                               Por que não fazeis
                                                               com que os canhões
                                                               lá no Oriente Médio ou na Criméia
                                                               deixem de dilacerar inocentes
                                                               e passem a disparar rosas
                                                               fazendo que suas bombas
                                                               se desfaçam em flores?!

           Neste tempo em que o terrorismo desalmado anda querendo incendiar o mundo, façamos um apelo a nosso Deus, nós que somos crentes, sabendo que Ele ama a Paz. Ele quer a Paz. Ele que é a Paz. Digamos-lhe de todo coração:
           Pai de todos os pais:
           Sei que Tu respeitas demais a liberdade humana. Mas, até quando irás permitir que uma minoria de desalmados terroristas esmague criaturas inocentes em várias partes deste nosso mundo? Até quando irás permitir que os gastos com artefatos de guerra devorem recursos que seriam mais que o necessário para assegurar, a todas as criaturas da Terra, uma melhor condição de vida?
           Até quando permitirás que nações inteiras continuem com o absurdo de  se prepararem para a guerra que, todos sabemos, poderá tranquilamente suprimir a vida humana de grande parte da Terra?
           Será que os pais deixam crianças brincar com fogo, manusear navalhas cortantes, afagar cobra venenosa?
            Tu que podes tudo, Senhor, bota bom senso na cabeça dos homens que governam a Terra!
            Salva a Paz! Destrói as armas que matam inocentes, desarma os foguetes teleguiados, retira do ar as aeronaves carregadas com bombas estratégicas, pacifica os chefes das nações!
            Salva a Humanidade, Senhor, Tu que és a Paz!

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Aroldo Teixeira de Almeida é professor aposentado do Quadro Próprio do Magistério Paranaense. Neste tempo em que os professores do Paraná estão mobilizados e em constante vigília para a defesa de seus direitos, nem sempre respeitados pelos oligarcas do momento, que chegue até eles o meu apoio à sua luta por melhores condições de vida e de trabalho

quinta-feira, 12 de fevereiro de 2015

A VOZ DOS SINOS



               Todos os dias, às 6,30 da manhã, sou despertado do sono pelo toque festivo dos sinos da Igreja de São Pedro e São Paulo, cá no bairro onde moro, convidando os fiéis católicos para a Missa das sete. É por isso que, ao ouvir os sinos,

                                                        "...eu gostaria de subir
                                                        à torre da Matriz
                                                         para estudar de perto
                                                         os sinos
                                                         e ver e descobrir
                                                         o que dá a cada um
                                                         aquele som inconfundível
                                                         e o que dá também
                                                         ao conjunto
                                                         a impressão harmoniosa
                                                         difícil de esquecer
                                                                       Sei perfeitamente
                                                                       - pois já subi por ela muitas vezes -
                                                                       que a escada é íngreme
                                                                       parecendo interminável
                                                                       mas terei que subir
                                                                       - sou sineiro das almas -
                                                                       e de cada uma
                                                                       e de todas - 
                                                                       gostaria de arrancar
                                                                       os sons
                                                                       mais agradáveis ao Senhor meu Deus"

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            Sinos!
            Vai ficando cada vez mais raro, cá em minha Curitiba, ouvir sino a bater.
             Em cidades pequenas, como na minha saudosa e distante Barbosa Ferrar, o sino da matriz tocava o Ângelus às seis da manhã, ao meio-dia, às seis horas da tarde. E a gente parava tudo que fazia para saudar Nossa Senhora e agradecer o mistério da Encarnação do Senhor Jesus.
             O sino tocava, também, durante as Missas solenes, na elevação da Hóstia consagrada e na elevação do Cálice.
             Na minha cidadezinha do interior o sino tocava nos enterros, e até para avisar incêndio ou qualquer outra calamidade.
             E eu me admirava perceber que cada sino - eram cinco - tinha um som inconfundível, e o melhor  é que de fato o conjunto irradiava uma grande harmonia.
             Sineiro das almas! dizia um vizinho ali por perto.  E, hoje, eu tomo a liberdade de completar, dizendo que é feliz quem sabe obter de cada criatura o melhor som de que ela é capaz de produzir.
             Cada um de nós tem suas harmonias secretas. Às vezes, há pessoas que dão a impressão de não terem nenhum som harmonioso a desprender. Há pessoas que ao saberem comparadas a sinos seriam as primeiras a responder:
              - "Só se for sino rachado, porque nem sombra de harmonia existe em mim..."
              E eu digo que pessoas assim me deveriam fazer meditar comigo mesmo: por que meus sinos interiores foram emudecidos? Será por causa desta nossa Curitiba apressada e sem tempo para ouvir o badalar os sinos que bimbalham na alma de sua gente?
              É por isso que eu tomo a liberdade de completar:
              - todos nós temos nossos sinos interiores...
              - em horas de alegria eles repicam festivos e dobram, tristes, nas horas amargas de sofrimento, de dor.
              E Você, meu benévolo leitor, há quanto tempo não pára um instante, para ouvir seus sinos interiores?
              Eles desaprenderam repiques festivos? Ou, muito pior, eles deixaram de tocar?...
              Saiba Você como são inconfundíveis nossas harmonias íntimas, nossos sinos interiores...
              Portanto, não deixemos que emudeçam os sinos de nossa alma! É preciso que descubramos almas amigas cujos sinos interiores se somem uns aos outros, se completem, se harmonizem, cantando numa só voz louvores ao nosso Senhor e Pai de todos os pais!...

                                                              *******************

Aroldo Teixeira de Almeida é professor aposentado do Quadro Próprio do Magistério Paranaense, e aproveita o ensejo para solidarizar-se com os professores estaduais em greve justa e ordeira na defesa de seus direitos, nem sempre respeitados pelos detentores do poder...

                                                             ********************



















                                                  












                                                       

domingo, 8 de fevereiro de 2015

O GRANDE SILÊNCIO


                                       
                                                  ..silêncio das árvores
                                                  o agitar dos ramos
                                                  movidos pelo vento...
                                                  no silêncio das águas
                                                  ainda há
                                                  o marulho das vagas
                                                  ou o cantar da correnteza 
                                                  atravessando as pedras...
                                                                    no silêncio dos céus
                                                                    ainda há
                                                                    o palpitar das estrelas
                                                                    Aprendo que não basta falar
                                                                    para que eu atinja o silêncio...
                                                                    enquanto os cuidados se agitam
                                                                    ainda não penetrei
                                                                    na área do grande silêncio
                                                                    e aí
                                                                    somente aí
                                                                    se escuta voz de Deus

              Ainda não consegui penetrar na área do grande silêncio  -  aí, somente aí, se escuta a voz de Deus! Será tão difícil assim penetrar na área do grande silêncio?...
              Não basta ficar de boca fechada. Não basta não falar. Quantas vezes os maiores tumultos dentro de nós acontecem em horas de lábios cerrados?
              Se é verdade que o preço para atingir a área do grande silêncio é conseguir que os cuidados, as preocupações, os problemas que nos agitam, não haverá o perigo de o grande silêncio só ser atingido pelos que se desligam dos problemas dos irmãos, que vêm como se não vissem, e ouvem como se não ouvissem?...
              Que eu seja mais claro com a graça de Deus:
              Uma coisa, creio eu, é ocupar-nos, e outra, preocupar-nos.
              Preocupar-se é ocupar-se antes do tempo, afobar-se, perder a serenidade...
              O fundador da Companhia de Jesus - os jesuítas - Santo Inácio de Loiola, nos deixou uma regra bastante séria  -  tentar tudo, como se tudo dependesse de nós... Depois, entregar-nos, de olhos fechados, nas mãos de Deus, como se dEle, e apenas dEle, dependesse a solução dos problemas...
              E eu tomo a liberdade de reforçar:
              Seria errado não tentar, não fazer esforço, não nos virar pelo avesso...
              Seria erradíssimo, depois de tentar todas as alternativas, deixar-nos de entregar-nos nas mãos misericordiosas de Deus.
              Meditando os salmos, lá encontramos: -"Derrama no Senhor os teus cuidados."
              Sei muito bem que só tem direito de derramar seus cuidados no abismo de misericórdia que é o Coração de Cristo, quem faz o possível e até mesmo uma ponta do impossível...
              Mas também, depois de ter tentado de tudo de nossa parte, reconhecer que é uma delícia fechar os olhos e mergulhar no escuro...
              Quando as palavras somem, quando os cuidados adormecem, quando nos entregamos, de verdade, nas mãos do Senhor Jesus, o grande silêncio nos mergulha na paz, na confiança, na alegria de sermos filhos do Pai de todos os pais...
              E então a voz salvífica de Deus se faz ouvir!

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Aroldo Teixeira de Almeida, bacharel em Teologia Sistemática pela Pontifícia Faculdade de Teologia Nossa Senhora da Assunção, de São Paulo.
















      



                                                                

quinta-feira, 5 de fevereiro de 2015

SOMOS OU NÃO SOMOS PÁRA-RAIOS?!...



            Sentado cá na sacada de minha casa, contemplava uma tempestade rugindo lá longe, pelos lados de Colombo, e as descargas elétricas que se sucediam, com muitos raios e trovões.. Então me lembrei que apenas quando se ouve falar que caiu uma faísca, um raio, e derrubou uma árvores centenária ou até matou um homem, é que nós pensamos na utilidade de um pára-raios...
           Que descoberta maravilhosa para a humanidade! Mas o fato é que a gente quase sempre nem repara nos pára-raios. Eles estão lá em cima, nas torres, nos pontos mais altos dos edifícios, humildes, anônimos, sempre disponíveis para nos servir...
            Aí eu me descubro a pensar que existem criaturas humanas que são verdadeiros pára-raios... Mães de família que defendem os filhos do esposo, pai dos meninos... Se não houvesse o pára-raios materno, o pai de família, chegando meio embriagado em casa, faria ouvir não só trovões, mas haveria o risco de raios fulminantes, de faíscas, quem sabe, desastrosas...
        Há quem seja pára-raio no local de trabalho, junto ao chefe de seção, ou ao gerente, ou ao encarregado de serviço...
            Há quem seja pára-raio em qualquer lugar em que se acha: porque, infelizmente, mais da metade de nosso tempo se gasta em ajeitar situações, em pacificar ambientes, em recompor amizades perdidas, em reajustar amigos...
            É da essência do autêntico pára-raio ser leal com todos. Não é à custa de falsidade ou fingimento que as situações difíceis se recompõem... Claro que a criatura pára-raio, muitas vezes, sem chegar de modo algum a mentir, se vê na contingência de apresentar a porção de verdade capaz de ajudar o entendimento entre as parques em conflito...
           Por que não dizer toda a verdade?... Façamos uma experiência... Olhemos em volta... Vejamos se descobrimos, mesmo com vela acesa em plena luz do dia, mais de cinco ou seis pessoas que sejam capazes de escutar toda a verdade...
          Sei perfeitamente que é preciso muito amadurecimento interior, muita experiência bem vivida, bem aproveitada, para se ter condições de realmente conhecer toda a verdade à altura do que se ouviu!
       Aliás, não há pára-raios mais sensíveis e poderosos do que duas mãos postas, humildes e confiantes, erguidas em oração para o Céu!
           Quanto a mim, nos meus setenta e nove anos bem vividos - acho eu - creio no valor da oração. Porque creio que Deus existe, e que Ele é Pai. Creio que Ele escuta toda prece sincera, que não vem só dos lábios, mas que vem do mais íntimo de nosso íntimo...
          Não tenho a menor dúvida em afirmar que Deus jamais deixa sem resposta uma prece para valer... É verdade que nem sempre Ele dá exatamente o que é pedido, porque não vemos nada quanto ao futuro, não sabemos nada quanto ao amanhã...
           Mas Deus nosso Pai, quando não nos dá diretamente o que pedimos, dá mais e melhor. Quase sempre, na hora, eu não entendo, não aceito, às vezes me revolto e chego até a blasfemar... Vem-me a impressão de que Deus não existe, ou se existe, não me ouve, não me dá a menor confiança, criatura ignorante e insignificante que sou...
           Sei perfeitamente que Deus não precisa de advogados, de pára-raios... Mas os meus muitos anos de vida me permitem dizer que jamais tive a experiência de ver Deus falhar:
           - aprendi que quando Ele parece falhar, Ele já vem em caminho...
           - quando parece estar mudo ou quando parece faltar, sei que Ele escuta, acolhe. Nem sempre me dá o que Lhe peço, mas tenho a certeza de que Ele me dá mais e melhor...
           Pois sabe, infinitamente melhor do que eu, o que mais me convém ou de que mais eu preciso!...
              Louvado seja Deus!

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