sábado, 10 de setembro de 2011

A Igreja e o Bem comum

Nestes nossos tempos de profundos problemas sociais, de corrupção desvairada em vários setores da administração pública, de escândalos  que explodem quase todo dia, principalmente envolvendo políticos e representantes populares, é tempo de chamar os crentes de todas as confissões religiosas para as suas responsabilidades diante deste panorama não muito edificante. É evidente que as igrejas, seja a católica, sejam as protestantes tradicionais, sejam as evangélicas, não deveriam identificar-se com qualquer sistema econômico ou político. Isto não é competência das igrejas. Cuidar da justa ordem da sociedade e do Estado é dever central da política. Aliás, pertence à estrutura fundamental do Cristianismo a distinção entre o que é de César  (o plano temporal) e o que é de Deus (o plano espiritual).
      Diz-nos o senso comum que a  autonomia das realidades temporais é incumbência do Estado, e a ele esta autonomia pertence de pleno  direito. Nestes termos, o Estado não pode imiscuir-se no plano espiritual, que é campo específico das igrejas. Não pode impor a religião aos seus súditos, mas isto sim, garantir a liberdade de crença e a paz entre os praticantes das diversas religiões.
      O objetivo e a medida intrínseca da política é a justiça social. A política é mais do que uma simples técnica para a definição dos ordenamentos políticos, como quer que se queira definir a justiça social. O humanismo social cristão não pretende conferir às igrejas poder sobre o Estado. Elas desejam e devem simplesmente contribuir para a purificação da razão e prestar a própria ajuda para fazer que tudo aquilo que for justo possa, aqui e agora, ser reconhecido e realizado para o bem comum da sociedade. Numa palavra: uma sociedade justa na órbita secular não pode ser obra das igrejas: deve ser realizada na órbita política.
      As igrejas não podem nem devem tomar nas próprias mãos a batalha política para realizar uma sociedade mais justa e consentânea com o bem comum. As Igrejas não podem nem devem colocar-se no lugar do Estado. Mas também não podem ficar em cima do muro, não podem nem devem ficar à margem quando se trata da luta pela justiça.
      De outro lado, dentro da esfera política, o dever imediato de trabalhar por uma ordem justa na sociedade é próprio dos crentes, e não das igrejas como tais. Os crentes, como cidadãos do Estado, são chamados a participar pessoalmente na vida pública. Eles não podem abdicar da múltipla e variada ação econômica, social, legislativa, executiva e cultural, destinada a promover orgânica e institucionalmente o bem comum.
      Sua missão dentro das realidades terrestres é configurar retamente a vida social, respeitando a sua legítima autonomia e cooperando, segundo sua competência e responsabilidade, com os demais cidadãos. E sempre, como pessoas religiosas, devem sentir-se animadas pela Caridade Cristã, e sua vida pública deve ser vivida como Caridade Social, porque, homem e mulher, além da justiça,  têm e terão sempre necessidade do amor.

Nenhum comentário:

Postar um comentário