Diz-nos o senso comum que a autonomia das realidades temporais é incumbência do Estado, e a ele esta autonomia pertence de pleno direito. Nestes termos, o Estado não pode imiscuir-se no plano espiritual, que é campo específico das igrejas. Não pode impor a religião aos seus súditos, mas isto sim, garantir a liberdade de crença e a paz entre os praticantes das diversas religiões.
O objetivo e a medida intrínseca da política é a justiça social. A política é mais do que uma simples técnica para a definição dos ordenamentos políticos, como quer que se queira definir a justiça social. O humanismo social cristão não pretende conferir às igrejas poder sobre o Estado. Elas desejam e devem simplesmente contribuir para a purificação da razão e prestar a própria ajuda para fazer que tudo aquilo que for justo possa, aqui e agora, ser reconhecido e realizado para o bem comum da sociedade. Numa palavra: uma sociedade justa na órbita secular não pode ser obra das igrejas: deve ser realizada na órbita política.
As igrejas não podem nem devem tomar nas próprias mãos a batalha política para realizar uma sociedade mais justa e consentânea com o bem comum. As Igrejas não podem nem devem colocar-se no lugar do Estado. Mas também não podem ficar em cima do muro, não podem nem devem ficar à margem quando se trata da luta pela justiça.
De outro lado, dentro da esfera política, o dever imediato de trabalhar por uma ordem justa na sociedade é próprio dos crentes, e não das igrejas como tais. Os crentes, como cidadãos do Estado, são chamados a participar pessoalmente na vida pública. Eles não podem abdicar da múltipla e variada ação econômica, social, legislativa, executiva e cultural, destinada a promover orgânica e institucionalmente o bem comum.
Sua missão dentro das realidades terrestres é configurar retamente a vida social, respeitando a sua legítima autonomia e cooperando, segundo sua competência e responsabilidade, com os demais cidadãos. E sempre, como pessoas religiosas, devem sentir-se animadas pela Caridade Cristã, e sua vida pública deve ser vivida como Caridade Social, porque, homem e mulher, além da justiça, têm e terão sempre necessidade do amor.
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