É bom caminhar. E eu o faço diariamente, desde manhãzinha. Saio de casa bem cedo para buscar o pão para o café. E procuro, no bairro, a padaria mais distante, justamente a pretexto de caminhar. Utilizo pouco os ônibus do transporte coletivo. Só quando tenho urgência para chegar ao meu destino é que os utilizo.
Com isso, cheguei à conclusão de que caminhar é expressão tão profunda e tão bela, que não se aplica apenas à marcha que nossos pés realizam, pelos caminhos da vida, pelas ruas da cidade, ou estradas a fora... Se caminhar fosse apenas isso, já seria muito proveitoso.
Gosto de percorrer as ruas do bairro, já conheço todo o Tingui, o bairro onde moro. Adoro caminhar pela Avenida Erasto Gaertner do começo ao fim, não me importando com o barulho e a poluição dos ônibus, caminhões e carros que a tornam um verdadeiro carrossel desordenado. Gosto mais ainda quando caminho por ela à noite ou de manhã, quer esteja ela cheia de gente, ou quer esteja quase vazia, o que é difícil de acontecer.
Gosto de percorrer estradas, sobretudo quando nelas há árvores, muitas árvores, sombras acolhedoras, às vezes até cantos de passarinhos, coisa rara no tumulto da Capital.
Hoje, não sei se porque à noite sonhei com minha querida filha Raquel, recentemente falecida, mas o fato é que me levantei de manhãzinha pensando nas caminhadas que se dizem espirituais. Caminhar, sinônimo de não parar, não se acomodar, mas avançar sempre, progredir nas caminhadas da Fé, da Esperança, do Amor.
Caminhar na compreensão humana, fugindo de qualquer conflito com meus irmãos de caminhada. Em lugar de apressar-me em julgá-los ou condená-los, entendê-los sempre mais, pois cada criatura de Deus é única e insubstituível.
Caminhar sobretudo na capacidade de ouvir. Quanto falo, na maioria das vezes, inutilmente! Como tenho dificuldades em dar a vez aos outros, aos que me circundam, aos que desejo que aceitem minhas opiniões, que considero as melhores do mundo!
Caminhar, sobretudo, na capacidade de dialogar. Dialogar não é fazer de conta que se escuta os outros, e já trazer minhas conclusões prontas e definitivas.
Dialogar é pesar e prezar os argumentos válidos que os companheiros de jornada me apresentam. Saber vencer e, principalmente, saber perder.
Muito melhor do que vencer sempre, é conseguir unir-nos com quem discutimos, para que, juntos, consigamos ver mais dentro da realidade e ir mais longe, do que ficando isolados no meio do caminho...
Caminhar também na compreensão da natureza: em lugar de caçoar de quem fala em ouvir o silêncio das coisas; em lugar de achar cafona e pueril a alegria dos que amam ouvir o farfalhar das árvores, o murmúrio das fontes, a luz das estrelas. o canto dos pássaros, a sinfonia da chuva sobre os telhados.
Saber que a Natureza, obra-prima de Deus, tem vozes. Nós é que, com os nossos barulhos inúteis, não temos as antenas necessárias para entender as pedras do calçamento, as árvores, os pombos que ciscam na grama verde dos jardins.
Principalmente, caminhar na paciência consigo mesmo. É orgulho ficar sem entender que também nós estamos ameaçados de cair... Ter paciência consigo não quer dizer deixar de lutar, para não cair. Apenas que somos fracos, pecadores, e sujeitos também ao mal.
Caminhar na confiança da Graça de Deus e no amor do próximo. É triste e malsão viver desconfiando de tudo e de todos.
Bom mesmo é caminhar. Aproveitar a vida que Deus na Sua misericórdia nos concedeu. Sobretudo, ganhar companheiros e companheiras na caminhada.
Caminhar sempre, mas sem perder o rumo, sabendo que a meta final de nossa caminhada é a Casa do Pai!
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