sexta-feira, 14 de fevereiro de 2014

DAS ARTES, A MAIS BELA



          Nos meus tempos de estudante de Teologia, em São Paulo, Capital, aos domingos nós, seminaristas,  comparecíamos à Catedral da Sé, para a Santa Missa, às 10 horas, dedicada aos jovens, e com muita alegria, porque nós também éramos jovens... A Catedral tornava-se pequena para a grande multidão de jovens, entusiasmados, com a Missa que sabiam ser sua e da qual participavam ativamente.
          Eu gostava mesmo era do momento do Ofertório em que nós, comandados pelo Padre Alarico, regente da "Schola Cantorum" do Seminário Central do Ipiranga, cantávamos a plenos pulmões, dando a impressão de querermos arrebentar o teto da imensa Catedral:

                                      Fica sempre um pouco de perfume
                                      nas mãos que oferecem rosas,
                                      nas mãos que sabem ser generosas.
                                      Dar um pouco do que se tem
                                      a quem tem menos ainda
                                      enriquece o doador,
                                      faz sua alma ainda mais bela.
                                      Dar ao próximo alegria
                                      parece coisa tão singela.
                                      Aos olhos de Deus, porém,
                                      é das Artes a mais bela...


           Apreciou bem o cântico, benévolo leitor? Quando ele começa a ser entoado pelas centenas de vozes juvenis, torna-se bem patente para todos os circunstantes essa magnífica descoberta de que sempre fica um pouco de perfume nas mãos de quem tem rosas para oferecer. Nas mãos de quem sabe e pode ter generosidade...
          E por que não pensar naqueles que têm pouco, mas desse pouco de que dispõem ajudam a quem tem menos ainda?
        Sempre desconfiei, pela minha própria maneira de proceder, que a pobreza, em geral, torna egoístas aqueles que são pobres. Talvez a causa seja a luta pela vida. Podendo afastar, afastam. Podendo empurrar, empurram, na esperança de que, com menos concorrentes, possam ter um pouquinho mais...
           É triste ver, como em geral, os pobres costumam se devorar entre si.
           Mas esta não é toda a verdade. A verdade, verdadeira, é que há Pobres capazes de acudir, felizes, quem precisa ainda mais do que eles próprios...
           A canção dos jovens na Catedral da Sé diz  -  e é plena verdade  -  que "dar um pouco do pouco que se tem a alguém que tem menos ainda, enriquece o doador e faz sua alma ainda mais bela..."
           E a canção, para mim, termina de modo surpreendente. Passa a falar em uma ajuda especial: a de dar ao próximo alegria.
           Parece coisa tão simples, tão sem valor, tão sem importância dar ao próximo um pouco de alegria... No entanto, os jovens continuam cantando, sem medo, e com entusiasmo, que dar alegria aos outros é a mais bela das Artes...
          Será exagero deles? É tão importante assim dar aos outros um pouco de alegria?
       E chega a ser Arte? E é belo alegrar o próximo? Fazer com que surja uma réstia de azul no céu cinzento, cor de chumbo, que acabrunhava um nosso irmão: será mesmo "das Artes a mais bela"?
        Que pensarão os mais velhos, rabugentos e insensíveis, daquela centena de jovens que com suas guitarras elétricas e suas vozes quentes e vibrantes, enchem a Casa de Deus, cantando a todo pulmão:

                                                   "Dar ao próximo alegria
                                                     Parece coisa tão singela !
                                                    Aos olhos de Deus, porém,
                                                    É das artes, a mais bela!...
                                           


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