Nos meus tempos de estudante de Teologia, em São Paulo, Capital, aos domingos nós, seminaristas, comparecíamos à Catedral da Sé, para a Santa Missa, às 10 horas, dedicada aos jovens, e com muita alegria, porque nós também éramos jovens... A Catedral tornava-se pequena para a grande multidão de jovens, entusiasmados, com a Missa que sabiam ser sua e da qual participavam ativamente.
Eu gostava mesmo era do momento do Ofertório em que nós, comandados pelo Padre Alarico, regente da "Schola Cantorum" do Seminário Central do Ipiranga, cantávamos a plenos pulmões, dando a impressão de querermos arrebentar o teto da imensa Catedral:
Fica sempre um pouco de perfume
nas mãos que oferecem rosas,
nas mãos que sabem ser generosas.
Dar um pouco do que se tem
a quem tem menos ainda
enriquece o doador,
faz sua alma ainda mais bela.
Dar ao próximo alegria
parece coisa tão singela.
Aos olhos de Deus, porém,
é das Artes a mais bela...
Apreciou bem o cântico, benévolo leitor? Quando ele começa a ser entoado pelas centenas de vozes juvenis, torna-se bem patente para todos os circunstantes essa magnífica descoberta de que sempre fica um pouco de perfume nas mãos de quem tem rosas para oferecer. Nas mãos de quem sabe e pode ter generosidade...
E por que não pensar naqueles que têm pouco, mas desse pouco de que dispõem ajudam a quem tem menos ainda?
Sempre desconfiei, pela minha própria maneira de proceder, que a pobreza, em geral, torna egoístas aqueles que são pobres. Talvez a causa seja a luta pela vida. Podendo afastar, afastam. Podendo empurrar, empurram, na esperança de que, com menos concorrentes, possam ter um pouquinho mais...
É triste ver, como em geral, os pobres costumam se devorar entre si.
Mas esta não é toda a verdade. A verdade, verdadeira, é que há Pobres capazes de acudir, felizes, quem precisa ainda mais do que eles próprios...
A canção dos jovens na Catedral da Sé diz - e é plena verdade - que "dar um pouco do pouco que se tem a alguém que tem menos ainda, enriquece o doador e faz sua alma ainda mais bela..."
E a canção, para mim, termina de modo surpreendente. Passa a falar em uma ajuda especial: a de dar ao próximo alegria.
Parece coisa tão simples, tão sem valor, tão sem importância dar ao próximo um pouco de alegria... No entanto, os jovens continuam cantando, sem medo, e com entusiasmo, que dar alegria aos outros é a mais bela das Artes...
Será exagero deles? É tão importante assim dar aos outros um pouco de alegria?
E chega a ser Arte? E é belo alegrar o próximo? Fazer com que surja uma réstia de azul no céu cinzento, cor de chumbo, que acabrunhava um nosso irmão: será mesmo "das Artes a mais bela"?
Que pensarão os mais velhos, rabugentos e insensíveis, daquela centena de jovens que com suas guitarras elétricas e suas vozes quentes e vibrantes, enchem a Casa de Deus, cantando a todo pulmão:
"Dar ao próximo alegria
Parece coisa tão singela !
Aos olhos de Deus, porém,
É das artes, a mais bela!...
****************************
Nenhum comentário:
Postar um comentário