segunda-feira, 10 de fevereiro de 2014

MESMICE... O QUE É ISTO?



          Quem de nós tem direito de estranhar que os trens e os bondes se irritem, se rebelem, descarrilem?... (Dom Hélder Câmara, Arcebispo de Olinda e Recife,  + 28/08/99).

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          O problema é que o automóvel, o ônibus, o caminhão, a motocicleta, não se prendem a trilhos e a fios...
          Você, meu benévolo leitor, já pensou como deve ser monótono ir e vir sempre pelo mesmo caminho, sempre pelos mesmos trilhos, sem poder afastar um passo, nem prá  cá, nem prá lá?...
          O pretenso cansaço dos bondes e dos trilhos é o cansaço dos que devem enfrentar todos os dias, os mesmos caminhos, os mesmos ambientes, as mesmas caras, as mesmas vozes.
          O pretenso cansaço dos bondes e dos trens é o cansaço dos que têm o trabalho monótono, sempre igual, sempre o mesmo, o mesmíssimo...
          Charles Chaplin, o querido Carlitos dos velhos cinemas (será que alguém se lembra dele, de seu chapéu, de sua bengala?), pois é, ele se imortalizou criticando a sociedade que obriga, tantas vezes, o homem a um só gesto, como apertar um parafuso de uma peça em construção, o dia inteiro, sempre do mesmo modo.
          A parte dele na fábrica é só aquele parafuso, na qual ele deve dar aquele aperto, da entrada ao sair do trabalho. Acaba ficando com o trejeito de apertar o parafuso, mesmo quando já saiu da fábrica, e caminha pelas ruas, para casa... sempre no mesmo gesto automatizado de apertar o parafuso...
          Como deve ser monótono o dia todo mergulhar as xícaras de café em água quente, no bar da esquina, escaldá-las, colocá-las no balcão para que outro colega de serviço nelas derrame o café para os fregueses!...
          Em geral os fregueses tomam o seu cafezinho e nem pensam no cansaço de quem os serve, nem pensam na monotonia de quem o dia todo escalda xícaras ou enche as xícaras de café...
          Graça maravilhosa que Deus pode nos dar é a de vencer a rotina e fazer tudo como se fosse a primeira vez.
           Ver todos os dias o mesmo rosto, ouvir as mesmas vozes, circular nas mesmas salas, contemplar as mesmas paisagens é correr o risco de adoecer de "mesmice" (o mesmo, sempre o mesmo, a mesma, sempre a mesma)... Você, católico, meu irmão, já pensou no martírio do padre no confessionário, ouvindo todo dia, toda semana, todo mês, todo ano, sempre os mesmos pecados, pecadinhos e pecadões de seus fièis?  A eterna monotonia do pecado?
          Peçamos a Deus olhos de criança! Procuremos ver todos e ver tudo pela primeira vez. Pensando bem, tudo é novo cada manhã. Nós próprios somos o que éramos ontem mais a experiência que ontem adquirimos e afeitos às surpresas que o dia de hoje vai apresentar...
          O mesmo acontece com todos e com tudo em volta de nós... A luz que desce do alto, hoje, não é a que ontem nos banhou com seus raios. O vento que passa por nós, trazendo-nos frescor, assanhando-nos os cabelos, é o irmão do mesmo vento  de ontem, mas não é o mesmo de ontem.
          Digo a minha neta Isabela que é bom divertir-se em descobrir os aspectos sempre novos de tudo o que parece sem mudanças....
          - "Sempre novo??"  -  me contesta ela. E completa: -"Quem dera que a cara do meu professor de Matemática se mudasse para melhor a cada nova aula!..."
          Seja lá como for, eu me alegro descobrindo como a Criação de Deus, com a colaboração consciente de homem e de mulher, recomeça cada dia, é nova cada manhã, renasce cada madrugada!









        
          
        
        


















        








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