sexta-feira, 7 de fevereiro de 2014

Por que? Por que, Deus meu?



          Sozinho ali na sala, enquanto a Cida arrumava os quartos, lembrando-me da Raquel e do Júlio, me invadiu uma tal melancolia, que chegou a me assustar. E chorei, chorei desabridamente, confesso, pois me foi muito difícil manter o auto-controle. Na verdade, meu coração pedia "revolta", em lugar de "melancolia". Mas, como cristão católico que sou,  é-me impossível falar em revolta com relação a Deus, Pai de todos os pais.
           Mas creio que mesmo assim até cometi o pecado de blasfêmia, pois apostrofei a Deus com veemência pela morte precoce  -  duas mortes em três anos - dos meus dois filhos, ainda na metade de suas vidas.
         - " Por que? Por que?" -  Foi o questionamento que fiz a Deus, lembrando-Lhe que Ele também foi Pai, e com toda certeza, segundo nosso senso comum, chorou de igual modo a morte cruel de Seu Filho, Jesus, o Messias.
            Deus, ser supremo de todas as coisas, em quem não é imaginável o sofrimento, pois Ele está acima de todas essas contingências humanas, - o que dizer de Seus sentimentos diante da morte de Jesus?
            Será que Ele permaneceu impassível por trás das nuvens, enquanto na Terra Seu Filho feito homem padecia os mais terríveis tormentos?
            E  que dizer diante do sofrimento de um pai e de uma mãe terrenos, que apostrofam a Deus: - "Por que? Por que, Senhor? Eu Vos chamo de Pai, e Vós permaneceis impassível escondido lá no Céu, atrás das nuvens,enquanto eu, como outros pais aqui na Terra, padecemos tormentos indizíveis com a morte de filho e filha tão queridos?"
             Um padre da paróquia, questionado por mim, respondeu-me que Deus também é Pai, e teve um Filho, Jesus, morto sobre terríveis sofrimentos, pregado em uma cruz.
              Respondi ao padre que a comparação não tem sentido. Como comparar Deus com um homem? Deus eterno, infinito, todo-poderoso, imune a qualquer sofrimento, a qualquer dor? Comparar Deus a um ser frágil, contingente, mortal, sujeito a todos os dissabores do mundo, tem alguma lógica ou, em outras palavras, é lícita  uma comparação entre o Criador e o criado?
              É possível dizer que Deus Pai SOFREU realmente pela morte de Jesus, ou esse sofrimento é apenas uma metáfora, pois Deus é imune ao sofrimento?
              Eu sofri pela morte de meus dois filhos = Deus sofreu pela morte de Seu Filho.
              Confesso: não posso aceitar tal paralelismo.
              O Absoluto e o Contingente estão em planos metafisicamente opostos, e entre eles não pode haver  nenhuma comparação ou paralelismo.
              Os melhores instruídos do que eu, que me expliquem essa antinomia... Estou totalmente no escuro, chorando noite e dia a morte precoce da Raquel, minha filha, e a morte precoce do Júlio, meu filho!...
               Peço a misericórdia de Deus para o Júlio, que num momento de desespero deu fim à própria vida; e tenho a certeza de que minha filha Raquel, por toda a retidão de sua curta mas benéfica existência,, descansa na paz do Pai de todos os pais.

        
        

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