domingo, 16 de fevereiro de 2014

VENCER E CONVENCER



            Nesta manhã enfarruscada de domingo  -  essa chuvinha maneira cantando sobre nossos telhados,   tentando nos convencer de que o tempo mudou e que estamos livres daquela soalheira terrível das últimas semanas  -   veio-me a idéia, para o meu blog, de que mais difícil, mais humano e mais belo do que vencer, é justamente convencer.
            Vencer está ao alcance dos animais; convencer, não... O cupim, por exemplo, consegue vencer a viga poderosa que sustenta o telhado. Parece-me incrível como um bichinho tão pequeno consegue devorar por dentro madeiras tão grossas.
            Numa briga de galos  - apreciadíssima nas periferias de nossas cidades ( aqui me lembro de meu falecido pai, amante inveterado desse "esporte")   -   o vitorioso deixa o colega e irmão galo vencido, a bonita crista rasgada, o pescoço ensanguentado, não raro estrebuchando pelo chão da rinha, e morrendo.
            Gato vence rato. As piranhas sangram e matam animais até de grande porte, como o boi, e são ainda capazes de liquidar tranquilamente uma desavisada criatura humana...
            Claro que homem e mulher também sabem e conseguem vencer. Já venci muitas partidas de xadrez contra adversários gabaritados, Também no jogo de damas a vitória me sorriu centenas de vezes. Vence-se um jogo de futebol, de basquete, de vôlei, de tênis.
            Quem é forte, musculoso e tarimbado, derruba e nocauteia um adversário - pode até matá-lo e esfolá-lo...
            Quando se diz que uma nação perdeu a guerra e outra venceu, isto quer dizer, nas entrelinhas, que a nação vencedora tinha razão e venceu porque teve a ajuda de Deus para vencer? De maneira nenhuma.
            E hoje, não raro, é possível vencer uma guerra, e arrasados podem sair não só quem foi vencido, mas o próprio vencedor da guerra.
            Se os Pais em casa, sem ouvir possíveis e justas razões dos filhos, cortam sem mais  qualquer discussão, e resolvem e decidem sem oportuno diálogo, por vezes esmagando a garotada, parecem vencedores; o certo, porém, é que venceram, mas nem sempre convenceram.
            Em uma discussão, quando há quem tenha um vozeirão mais forte, talvez maior poder dialético, não raro amigos que aplaudem  -  aí pode haver vencedores, sem que os vencidos saiam convictos da derrota...
            E eu tomo a liberdade de propor ao leitor eventual deste meu blog: tenha como desafio permanente convencer, e não apenas vencer.
            É evidente que em lugar de convencer, eu possa ser convencido. E não me parece vergonha nenhuma mudar de idéia, de posição, de ponto de vista, de conduta, se me convencerem de que eu estou enganado, e que havia caminho melhor seguir...
            Para vencer numa discussão, vale o grito, vale a ameaça, vale até o suborno... Para convencer, o ideal é que não se trate de sofismas: o ideal é que nem o oponente, nem ninguém queira me convencer, me enganando, me enrolando, me passando para trás.
           Para convencer, o ideal é que a pessoa esteja ela própria convicta, tenha calma, saiba apresentar os argumentos, saiba ouvir, reconhecendo toda a parte de razão que haja no adversário.
           Quem convence não deve cantar vitória. No rigor do termo, quem vence é a Verdade, é a Justiça. Quando muito, eu devo me alegrar por ter ajudado meu irmão a ver mais claro, a ver o que eu estava vendo e ele não.
           Um singelo conselho para quem por ventura entre num embate: experimente a alegria de trocar sempre mais o Vencer pelo Convencer.
           O importante é que Você e eu estejamos, sempre mais, a serviço da Verdade, da Justiça e do Amor. Vamos, Você e eu, aceitar sermos convencidos. E quando alguém nos convencer, fiquemos humildes, não apenas por fora, na aparência...
           A humildade que só existe por fora é farisaica e triste. Quando, por minha vez, me couber o "convencer", é bom que eu tenha humildade por fora e por dentro... E que eu me alegre por ter servido à Verdade, que é o mesmo que servir a Deus!...

                                                          *******************

Aroldo Teixeira de Almeida é professor aposentado do Quadro Próprio do Magistério do Paraná em Português e Francês, e bacharel em Teologia pela Pontifícia Faculdade de Teologia Nossa Senhora da Assunção, da Capital Paulista. Tem dois livros publicados: " Capitu", e "Páginas Esparsas". Para breve pretende lançar um terceiro: "Reflexões ao Pé do Fogo".

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