Velhos vinhos
Agora
Que a velhice começa
Preciso aprender com o vinho
A melhorar envelhecendo
E sobretudo
A escapar
Do perigo terrível
De, envelhecendo,
Acabar virando vinagre
81 anos no costado... Ainda assim, diz-me o meu geriatra, Dr. Katter, que é muito importante saber envelhecer! Será que ele, visivelmente já um tanto quanto maltratado pela idade, poderá aplicar a si mesmo o que preceitua para seus idosos clientes?
Em todo caso, sou obrigado a concordar com os meus versos acima: é preciso saber envelhecer... Saber descobrir o encanto de cada idade. Sem dúvida, há limitações que a velhice traz, e eu confirmo isto com o meu própria caso - setenta e oito anos no costado - Bem ou mal vividos? Entrego este questionamento à misericórdia de Deus.
Sei por experiência própria que ha limitações, e muitas, que a velhide traz, sem que a gente a solicite... Mas, por via das dúvida, costumo dizer aos velhotes como eu que só é feliz quem envelhece como os frutos que amadurecem sem azedume...
E digo mais: feliz de quem envelhece por fora, apenas na carcaça, como as frutas que amadurecem sem travo na língua... conservando-se sempre jovem por dentro. Crescendo em compreensão para com tudo e para com todos, caminhando, sempre mais, no amor a Deus e no amor ao próximo...
Quem conserva acesa a sua chama, quem mantém entusiasmo pelo que faz, quem sente razões para viver, pode ter o rosto cheio de rugas e a cabeça toda branca, mas, garanto, é um jovem!
Quem não entende a vida, e não descobre razão para viver, e não vibra, não se empolga, pode ter vinte anos, mas já envelheceu!
Adulto que não entende os jovens, que vive dizendo que no seu tempo não era assim, que reclama contra tudo e contra todos, cava um abismo que o impede de atingir a gente moça, a gente que ainda é jovem, a gente que é a semente do futuro.
Aqui na minha rua tem uma senhora que já é bisavó, e é ainda conselheira de seus netos e netas.
Nos meus tempos de estudante de Teologia, em São Paulo, tive a ventura de ser aluno do professor de Direito Canônico, padre Araújo, um nordestino porreta com seus oitenta e três anos, e no entanto foi o jovem mais jovem que encontrei na vida...
Você, meu benévolo leitor, qualquer que seja a sua idade, guarde este pensamento, que não é meu, mas de uma pessoa bastante idosa, entretanto espiritualmente mais jovem do que eu, muito mais sábia do que os setenta e oito anos que tenho nas costas, o saudoso professor padre Araújo, citado linhas acima:
- O importante não é viver muito, ou viver muito ou viver pouco, mas realizar na vida o plano para o qual Deus nos criou. As rosas, dizem os jardineiros, a rigor vivem um dia. Mas vivem plenamente porque realizam o destino de graça e de beleza que vêm trazer à Terra...
E continua ele:
- Se Você sentir que os anos passam e a mocidade se vai, faça como eu, peça a Deus, para si e para os que como eu já se tornaram menos jovens, a graça de envelhecer como os vinhos envelhecem - tornam-se melhores - e sobretudo, a graça de, envelhecendo, não azedar, não virar vinagre...
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Dedico este texto a meu filho Aroldo Júnior que, apreciador dos bons vinhos, me ensinou também que um bom vinho, bebido com moderação, é também um bom adjuvante para que nos conservemos sempre jovens e cheios de ardor para vivermos plenamente a nossa vida.