quarta-feira, 28 de novembro de 2012

TER sem RETER


      Minha neta, Isabela, tem um cachorrinho poodle, chamado Billy. E eu, observando-o, noto que ele está sempre, de uma maneira ou de outra, roendo um osso, que nunca acaba. E eu me pergunto:
      -  Donde virá a paixão do cachorro pelo osso?
      Tenho para mim que se oferecermos aos cães carne de um lado, osso do outro, eles nem vacilam: largam a carne e agarram o osso...
      É só reparar um cachorro agarrado ao osso... Deus do céu! Que sofreguidão! Que fúria! E rosna, de tão feliz que está! Rosna também para espantar qualquer intruso que tenha a audácia de querer participar de seu banquete... Tem ciúme da própria sombra, pois o faz lembrar-se de outro cão que pretenda dividir com ele um pedaço, por mínimo que seja, de seu festim delicioso...
      Me parece que vale como frutuosa meditação olhar, com olhos de ver, um cachorro agarrado ao osso...
      É curioso! Chamar cachorro de cachorro, falar de seu agarramento ao osso, não inclui nada de ofensivo... Mas é muito delicada qualquer aproximação quanto a criaturas humanas com agarramentos que lembram o cachorro agarrado ao seu osso. Mas é ou não é o caso de cada qual de nós perguntar a si mesmo se, em matéria de agarramentos, não há nada que lembre a cena à qual estou aludindo?
      Sem a pretensão de não julgar a ninguém, deixando a cada consciência o encargo de se examinar ,atrevo-me a perguntar:   
      - Há ou não agarramento a dinheiro e outros bens semelhantes que lembrem o agarramento ao osso, com todos os pormenores da cena canina recordada acima: arreganhar os dentes, mostrar as unhas, rosnar, não deixar ninguém chegar perto, querer o osso só para si e, não raro, morder o observador incauto?...
      Às vezes nós, humanos, temos a intenção de ir ainda mais longe: não contentes com o osso que já temos nos dentes, ainda avançamos nos ossos dos outros...
      - Há ou não agarramento a cargos e ofícios que lembram o agarramento ao osso? Há criaturas que foram esplêndidas no cargo que ocupavam; desdobraram-se; obtiveram resultados magníficos; não mediram sacrifícios; dedicaram ao cargo o melhor de sua vida.
      Mas, cadê a coragem para largar o osso?... Convenceram-se a si mesmos de que não se trata de nada de pessoal: querem morrer no posto, por que onde encontrar quem conheça o trabalho como quem praticamente criou tudo e fez o trabalho crescer? Onde encontrar alguém que tenha a mesma dedicação?...
      E não faltam amigos aduladores - mais aduladores do que amigos - para dizer e redizer que é impossível largar o osso, que é preciso sacrificar-se...
      Convém examinar se nossas amizades não são agarramento ao osso... É amizade autêntica a amizade possessiva, absorvente, ciumenta, rosnante, que mostra dentes e garras a quem se aproxima, como se todos quisessem tomar-nos o osso?
      Que o eventual leitor deste despretensioso blog não se ofenda com a comparação: estou pedindo apenas que, encontrando um cão agarrado a um osso, parem, olhem, meditem... Meditem!
     

Um comentário:

  1. Professor!!! o senhor sumiu! não respondeu aos meus e-mails...pensei em perguntar ao Carlos como o senhor estava...pensei no pior.
    Que bom que estas aqui...rsrs
    AMEI este post...MEDITAÇÃO...REFLEXÃO...GRANDIOSAS PALAVRAS...MUITO BOM!
    Um abraço, fica com DEUS.

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